Palavras e memórias deste ano…

Iniciar mais um ano é alimentar a esperança, compartilhar sonhos, trocar experiências e fazer de cada dia o encontro com a diversidade. O estar presente é evocado na busca de melhor estarmos no tempo e assim aproveitar cada instante.

Todos os anos são especiais e únicos, mas diante deste em que a Vila Esperança comemora 25 anos a responsabilidade aumenta. Fizemos como fio condutor a palavra que se expressa em ação FESTA. Palavra essa que traz um sentido amplo de trabalho, que permeia o planejar, o fazer e o organizar. Esse foi um grande desafio para esse grupo de crianças, que tem ideias incríveis, mas que nem sempre se dispõe da força necessária para o fazer e o organizar.

Dentro da temática principal “Festa”, e a partir dela suas especificidades começamos com “A Festa do Encontro: Início das Aulas” e “Carnaval: A Grande Festa Brasileira”, em que foi estudado e realizadas oficinas de percussão (Batalurê), Customização de camiseta – figurino; confecção de máscaras; balangandã; canto e dança de Marchinhas e a constituição do Bloco da Vila.

Em seguida foi realizado o “Projeto Ancestralidade” em que foi focalizado o nome, sobrenome, identidade, família, avós, ancestralidade feminina (mulheres), o tempo, árvore genealógica, objetos de Memória e culminou com a grande Festa dos Avós. Uma festa bastante significativa onde propicia a compreensão da diversidade a partir da identidade de cada um e uma. Para que essas aprendizagens acontecessem despertamos por meio dos cinco sentidos: lemos, vimos, cheiramos, escrevemos, cantamos, dançamos, comemos. O corpo todo esteve presente na busca do aprender.

Mais uma festa nos chama para os estudos. Agora é hora de comemorar mais uma ano da Epok. Juntos estudamos a sua história, como foi criada, quais filosofias alimentam o seu fazer. Conhecemos um pouco mais sobre a história de Mãe Stella, sua força, resistência e exemplo de mulher negra e empoderada. A festa foi uma construção coletiva. Teve bolo, doces e presentes que cada um trouxe para homenagear esse espaço de aprender.

No intuito de refletir sobre os sentidos e significados da Páscoa”, fizemos um lanche festivo coletivo, onde as crianças estudando matemática prepararam a receita de um bolo. Todas as crianças da Epok compartilharam o que fizeram, comemorando assim a Páscoa com um lanche mais do que especial, um piquenique com bolo, mousse de chocolate, brigadeiro e bombons.

Nossos estudos seguem na busca de dar sentido e significados, a Epok realiza uma vivência literária, o “Festival de Leitura com Sorvete”, em que a sala Passaredo foi organizada com os personagens e os livros do “Sítio do Pica Pau Amarelo”; alguns educadores usaram elementos que lembravam os personagens; aconteceram oficinas de fantoches, artes nos personagens Emília e Visconde, quebra-cabeça dos personagens e todos se refrescaram e deliciaram com um apetitoso sorvete. Foi uma experiência deliciosa e rica de significados.

Continuamos o trabalho pedagógico com o “Projeto Nandé Rekó (Nosso Jeito de Ser) – Cultura indígena”, em que foi trabalhado mitos, músicas, danças e oficinas de brinquedos, pinturas e alimentos.

Nosso trabalho dentro da seguindo o movimento literário adentrou nas obras de Daniel Munduruku, um autor indígena, que através de suas escritas nos aproximou um pouco do seu modo de ser. Lemos coletivamente uma obra que fez parte de várias manhãs: As aventuras aventurosas de Acanaí contra a cobra Norato. Uma obra permeada de mitos indígenas.

A escola em conjunto participou de uma atividade muito especial, o “Porancê Poranga” – vivência indígena na aldeia da Vila Esperança, em que cantamos e dançamos com o maracá; escutamos Mito Indígena; realizamos oficinas: modelagem em utensílios (1º ano), modelagem da boneca Ritxòkò (educação infantil), construção de Oca – moradia indígena (2º e 3º anos), grafismo – pintura indígena (4º e 5º anos); Finalizamos com um delicioso lanche indígena. A culminância de todo esse trabalho, foi a apresentação e exposição dos Álbuns Indígenas e dos trabalhos realizados na roda do Bom Dia na sala Passaredo.

Em seguida enfatizamos a temática “Mãe, Mulher: Ayabás – Afoxé Ayó Delê (portador de alegria)”. Foi explorado o calendário de Maio: histórias, filmes, canções, vídeos, significados e reflexões. Aconteceu um Ojó Odé (dia do caçador – vivência africana) em homenagem a todas as Ayabás (mulheres). Preparamos um presente para as mães. Escreveram e ilustraram um cartão para entregar junto com o presente. A culminância desse trabalho foi o “Afoxé Ayó Delê” (portador de alegria), um cortejo africano que caminhou pelas ruas de Goiás homenageando as mulheres, mães e tudo o que gera vida.

Dia dezoito de maio realizou-se uma “Campanha de combate à violência sexual de crianças e adolescentes”, em que conversamos, refletimos e assistimos vídeo sobre esse assunto. Participamos de um movimento que aconteceu na Praça do Aeroporto com outras crianças, com o objetivo de conscientizar sobre como prevenir e o que fazer contra a violência sexual infantil.

Na cidade de Goiás aconteceu o “Festival de Gastronomia”, que nos embasou para estudarmos assuntos sobre a “Culinária e Diversidade Cultural”. Exploramos sobre alimentos e alimentação, nomes e figuras de alimentos saudáveis e não saudáveis; as comidas prediletas das crianças e a “Brincadeira da Comida Brasileira”.

Depois os estudos foram direcionados a partir do tema meio ambiente, que foi focalizado assuntos acerca do planeta terra, água, poluição, natureza, fauna e flora. Chamamos a atenção para reflexões emergentes, cuidados com o planeta, o desperdiço de água, hábito de plantar e cuidar das plantas, preservar a natureza e não matar bichos e plantas.

Participamos do concurso “Cerrado – o berço das águas”, em que as crianças foram convidadas a partir das reflexões exploradas em sala sobre o cerrado a produzirem um texto dissertativo ou poético sobre essa temática.

O ano segue e mais uma festa foi preparada. A “Festa da Colheita (Festa Junina) – Arraiá da Esperança”, traz junto com esse momento a reflexão da sustentabilidade, da divisão das terras, meios de produção, alimentação saudável. Estudamos a história da Festa Junina e a sua diversidade de

manifestações no Brasil que foram referências para a festa da escola. O respeito pelos pequenos agricultores e agricultura sustentável foram estimuladas.

No dia da grande festa “Arraiá da Esperança”, teve atrações, apresentações, brincadeiras, diversões, comidas e bebidas. As crianças com suas famílias e convidados prestigiaram a festa e se divertiram dançando, comendo, brincando, conversando, rindo. Foi um evento bonito e significativo para todos. Mais uma mostra de que a coletividade é sempre impulsionada, uma festa é feita por cada um, mas todos juntos somos mais fortes, e uma festa que tem a participação e presença das famílias fazem dela muito mais bonita.

Depois de tantas experiências, finalizamos um semestre, momento de repousar as energias pois a caminhada continua, e o desejo de um semestre mais colorido, mas “festejante” e mais alegre nos impulsiona a planejar e preparar para a volta às aulas.

Retornamos das férias com “A Festa do Reencontro”. E a temática principal desse momento foi “O Vento – brincadeiras e brinquedos no vento”. O vento surge trazendo os elementos mágicos e todas as dimensões como por exemplo a brisa, a ventania, o furacão… Acolhemos as crianças na Praça do Sol, cantamos, fizemos roda de conversa, expectativas para o segundo semestre e ilustramos as férias. Estudamos a canção Ar – Toquinho e Vinícius, assistimos o vídeo, reescrevemos, memorizamos e cantamos. Estudamos as características do ar e sua composição.

O Espaço Cultural Vila Esperança com o Projeto Rádio da Vila concorreu no “Prêmio Nacional de Projetos com Participação Infantil”. Dentre muitos projetos que participaram e foram estudados, a Rádio da Vila ficou entre os quatro melhores. Assistimos o vídeo sobre o histórico de 10 anos da Rádio da Vila e recebemos a visita da Equipe do Concurso. As crianças organizaram para recebê-los, acompanharam as filmagens, além das entrevistas que deram sobre a importância da Rádio na Vila e na vida delas. Mais uma vez as crianças foram estimuladas para serem protagonistas de sua formação.

Dando continuidade nos estudos do ar, realizamos o tão esperado “Festival de Pipa com Sorvete”. Estudamos como se faz e solta uma pipa em um momento orientado pelo Kauã Túlio e o Paulo César. O Festival de Pipa com Sorvete aconteceu numa manhã de sol e vento na Praça do Chafariz, onde teve a roda inicial em que aprendemos como subir a pipa e manobrar. Depois brincamos com a pipa, fizemos cirandas, pulamos corda e brincadeiras livres. Tivemos um Piquenique com bolos, biscoitos, frutas, sucos; um delicioso sorvete. Nos despedimos da equipe do prêmio da rádio, que acompanharam e divertiram nessa manhã conosco.

Em seguida trabalhamos a temática “Pai” refletindo sobre o papel e figura de pai. No Cine Vila assistimos o filme Rei Leão, que demonstra o papel de pai.

Depois focalizamos nas nossas “Tradições populares – Folclore”, em que estudamos várias manifestações, como: personagens mitológicos, advinhas (o que é o que é), trava línguas, superstições, causos de assombração, ditados populares, brincadeiras, cirandas, canções.

Estudamos sobre o Saci, escutamos na Rádio da Vila o “Saci na Capoeira”; aprendemos e brincamos com as músicas do folclore e tivemos a ilustre visita do Dr. Ycas um Saciólogo onde a sua arte

são os estudos da “Saciologia”. Ele trouxe instigações, brincadeiras e histórias. “O Saci na Vila” foi tema de produções textuais.

Estudamos também algumas manifestações da cultura popular da Cidade de Goiás. Estudamos quem foi a Cora Coralina que criou o Dia do Vizinho, texto informativo sobre esse dia, importância do vizinho, exposição de livros de sua autoria, brincadeira “Vai Pedir seu vizinho”. Teve contação da História Os Meninos Verdes – Cora Coralina. Também a História em áudio O que Teria na Trouxa de Maria – Diane Valdez que fala de Maria Grampinho.

Participamos de um dia do “FICA – Festival Interacional de Cinema e Vídeo Ambiental”, que focalizou problemas ambientais, especificamente a falta de água. Fizemos uma Roda de socialização da sua programação e fomos a uma exposição de artesanatos e visita ao Cinemão onde estava sendo exibido o FICA ANIMADO. No Cine Vila na Escola assistimos o filme Kauan e a Lenda das Águas, que tratou do cuidado e preservação com o meio ambiente.

Na sequência foi focalizada a “Independência do Brasil, Jogos Olímpicos e Paralímpicos”. Estudamos a nação brasileira e seus símbolos, a história da independência, a nossa bandeira – suas cores e significados. Por meio do livro didático, compreendemos como o processo de independência foi realizado, a criticidade e reflexão impulsionou a escrita desse fato histórico.

Mais uma vez participamos com o grupo Batalurê (Bloco da Vila) no Evento “Grito no Cerrado”, e alunos da Escola receberam premiação por reconhecimento das produções tendo suas ilustrações e textos em um livro publicado pelo evento.

O Projeto “Poesia da Vila – Vila da Poesia” apresentou-se com força. Preparamos a capa do caderno de trabalho com poesias com colagem de textos curtos e imagens. O Projeto iniciou com a experiência de escolher uma palavra viva que estivesse presente na Vila, o olhar atento foi estimulado para que cada um encontrasse a sua palavra. Os estudos da poesia seguiram até o final do ano. O encontro com os poemas de Cora Coralina possibilitou o estudo da estrutura do texto poético, além de conhecermos um pouco mais sobre a vida e obra dessa grande mulher. A visita a Casa da Cora marcou os nossos estudos, com o aprofundamento necessário.

Teve contação da história “Jaipur e a Máquina de Avisavento” com encenação do personagem Jaipur e muitas dinâmicas. Participamos da Oficina Máquina Avisavento, em que fizemos um cata-vento de papel.

Depois, a proposta foi a contação de história por todos os educadores do livro “O Menino do Dedo Verde” que fez parte das nossas manhãs. A história nos possibilitou imaginar, viajar e se emocionar. Aprendemos sobre: ser você mesmo; simples atitudes que mudam o mundo; o poder da natureza; flores que impedem uma guerra. Realizamos uma atividade de interpretação do livro, trazendo a compreensão por meio do registro escrito.

Este ano tivemos a farinhada na Roça da Vila. Todas as crianças do 4º e 5º ano foram convidadas a passarem dois dias na Chácara Caminho das Águas. Para muitas crianças foi a primeira vez que foram dormir longe dos pais. Mais uma vez as famílias demonstraram a confiança que tem neste espaço de

educação, permitindo as crianças de embarcarem nessa aventura. A saída foi na sexta-feira e o retorno no sábado. Para a realização da farinha foram empenhados muito esforço e trabalho. As crianças mostraram-se comprometidas e o resultado foi uma deliciosa farinha, que foi compartilhada com todas as crianças da escola.

As atividades de registro vem agora acompanhada do grande momento esperando nesse ano. A FESTA DOS 25 ANOS DE VILA ESPERANÇA. Preparamos toda a Vila para receber os amigos italianos. Foram quatro dias de festa. Iniciamos com a comida do rei- Amalá pra Xangô, onde toda a comunidade foi convidada para no Quilombo ao som dos tambores saborear o banquete africano. Na quinta-feira foi o dia de ir para a Chácara Caminho das Águas, as crianças da escola e os familiares foram para um super almoço. Na sexta-feira foi o dia de rever os momentos históricos destes vinte e cinco anos com um vídeo da retrospectiva, a noite foi permeada de lágrimas e depoimentos de quem ajudou e vem ajudando a fazer a Vila Esperança. E no sábado a festa foi na rua. Muita comida, alegria, homenagens, pessoas, e um grande bolo, que foi feito por algumas mães da Epok.

Para participar da cerimônia de premiação do “Prêmio Nacional de projetos com a participação infantil” em que a Rádio da Vila estava concorrendo, foram para o Rio de Janeiro a Maya, sua mãe Lara e o educador Haroldo. Viveram momentos de grande expectativa, já que o nome do ganhador foi dito somente na hora. E para a nossa felicidade, mais um reconhecimento de um trabalho, a Rádio da Vila que ficou em primeiro lugar.

No processo educativo dessa escola, na busca de darmos elementos para que cada um construa a sua identidade, no mês de novembro intensificamos as representatividades afro-brasileiras e africanas. Trouxemos para o nosso bom dia a música de Mc Soffia, que através do hip hop traz críticas e reflexões sobre ser negro, o racismo, o machismo. Uma busca continua desse espaço educativo de aflorar o respeito em todos e todas acima de tudo. A Francielly, uma adolescente que foi aluna da Epok veio dar uma oficina de hip hop. A oficina foi bem divertida e desafiante para todos os corpos.

Neste ano decidimos realizar o II Festival do jogo Ori. Estudamos sobre os aspectos históricos do jogo, refletimos sobre conceitos matemáticos, fizemos cálculos, falamos sobre etnomatemática, criamos estratégias, construímos o jogo utilizando diversos materiais. No festival desse ano, envolvemos outras escolas, e teríamos a presença e participação da Escola Municipal Holanda, e o IFG durante a culminância do trabalho, no Festival do Jogo Orí durante o Ojó Odé. Porém, devido a um acidente com o motorista da Escola Holanda, eles não poderiam participar. Decidimos, assim, adiar o festival para o próximo ano.

O Cine Vila esteve presente nas quarta-feiras com sessões de filmes que seguiam a temática que estávamos trabalhando, sempre com o intuito de, através dos filmes, refletir sobre temas pertinentes. No mês de novembro o Cine Erê, em parceria com a UEG e o IFG, trouxe o curta “De pássaro e infância: Maria”. No debate tivemos a participação da atriz Marah Júlia e da atriz mirim Maria Cecília, que falaram um pouco de como foi participar do filme. Foi discutido o racismo e formas de combatê-lo. Foi uma exibição que teve a participação do Lar São José e da Letras de Alfenim.

O corpo esteve estimulado nas atividades de Dançaterapia, Maculelê, Jongo, Capoeira Angola e Samba de Roda. Todos os momentos foram de encontros, onde cada um foi estimulado a ser, e no encontro formar a roda.

A poesia permeou o final de ano, trazendo para a festa de encerramento o tom poético. O tema gerador foi a palavra. A palavra falada, dançada, cantada, lida, declamada, escrita…enfim a PALAVRA. Finalizamos mais um ano com festa…o Quilombo ficou cheio de olhares curiosas das famílias que participaram de um ano inteiro de trabalho intenso.

Vivenciamos muitas coisas, experimentamos e aprendemos juntos, aprofundando a formação de conceitos, valores, significados, compreensões e reflexões, articulados e em consonância com o exercício da leitura, escrita e raciocínio. A busca contínua de uma convivência mais harmônica em grupo e do respeito a toda e qualquer diversidade.

Agora é hora de uma parte desse grupo seguir… e levar tudo que foi cultivado… Que os sorrisos, a esperança, o respeito permeiem cada passo de cada um e cada uma… Usarei da palavra dessa turma em conjunto com o nosso poeta amigo Elias José para finalizar… o que não tem fim…

A poesia

Tem tudo a ver com os sonhos

Que cada um pode ter e acreditar

Com a esperança e o respeito

Para o mundo transformar.

A poesia

Tem tudo a ver com o pensamento

Guardado dentro de um silêncio

A paz de um lugar sossegado

O amor atrás de um coração de pedra

O medo do futuro inimaginado

A poesia

Tem tudo a ver com a diversidade

Das cores, dos jeitos de ser e das culturas

Das crianças e sua felicidade

Brincadeiras, doces e aventuras

A poesia

– é só abrir os olhos e ver

Tem tudo a ver com tudo

Turma Arara Vermelha em companhia de Elias José

 

O artigo original se encontra no site da Vila Esperança: http://www.vilaesperanca.org/?p=6444