O regime reforçado de medicações para reduzir a transmissão da hanseníase e frear o risco de adoecimento entre as pessoas que convivem com os pacientes é uma das ações centrais do projeto PEP++, estudo multicêntrico internacional que será realizado no Brasil, na Índia e na Indonésia. O projeto inclui ainda abordagens educativas e ações de combate ao estigma. A proposta para o Brasil foi apresentada a 23 instituições no dia 14 de novembro, em Brasília, durante seminário na sede da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS).
As linhas gerais do projeto foram explanadas, com eixos que abrangem a quimioprofilaxia com o uso de rifampicina, moxifloxacina e claritomicina entre os contatos dos casos de hanseníase. Coordenadas pela NHR Brasil, as ações serão desenvolvidas num período de cinco anos em dois municípios a serem definidos. Nestes territórios, o projeto atuará também com estudos de percepção do estigma sofrido pelos pacientes nas comunidades e identificação de áreas com maiores índices de transmissão da doença.
Dentre os resultados esperados, o projeto busca reduzir a incidência da doença em mais da metade o número de casos novos, até 2021, nos municípios escolhidos. O estudo também pretende demonstrar a eficácia do regime reforçado de profilaxia pós-exposição – esquema com a nomenclatura PEP++. O desafio é mudar a realidade de comunidades onde a doença é considerada endêmica, fornecendo também evidências para contribuir com as políticas públicas de eliminação da hanseníase.
As ações nos três países são coordenadas pela equipe da NLR na Holanda, que teve participação no início da reunião por videoconferência com as falas de Duane Hinders, gerente do projeto em Amsterdã, e de Jan Van Berkel, diretor da NLR. No Brasil, a expectativa da equipe holandesa é alcançar a aprovação do projeto na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), comprometendo-se a seguir as diretrizes do País.
Durante o seminário, estruturado em quatro Comunicações Coordenadas, os participantes foram convidados a conhecer e discutir a iniciativa, apontando sugestões e levantando questões baseadas na realidade do tratamento no Brasil e nas abordagens em quimioprofilaxia. A reunião também contou com a participação de Pedro Albajar Viñas, Lise Grout e José Luiz Postigo da OMS/Genebra, que apresentaram a estratégia de vigilância para implementar um sistema de informação integrado para doenças tropicais negligenciadas. Isabelle Roger, da OPAS/OMS também participou apresentando a situação epidemiológica da hanseníase no mundo e nas Américas.
O grupo ainda contou com uma síntese dos principais estudos de quimioprofilaxia vigentes no Brasil, apresentada por Maria Leide Wand Del Rey de Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O contexto da epidemiologia da hanseníase no Brasil foi compartilhado com os participantes em apresentação de Carmelita Ribeiro Filha, coordenadora geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação, do Ministério da Saúde.
Também foram compartilhados os resultados preliminares da adaptação transcultural de duas escalas para avaliação de percepção de estigma, apresentados por Jaqueline Caracas, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Danielle Moura, da Universidade de Pernambuco (UPE). As ferramentas que serão utilizadas para o mapeamento de áreas com casos de hanseníase foram demonstradas por Josafá Barreto, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Um breve relato sobre a avaliação dos testes rápidos que deverão integrar o protocolo do projeto foi trazido por Samira Bührer, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
O seminário contou ainda com representações do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Organização Mundial da Saúde (OMS), Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), American Leprosy Missions (ALM), Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte (SES – RN), Médicos Sem Fronteiras (MsF), Brasil Saúde e Ação (BRASA) e Universidades Aliadas por Medicamentos Essenciais (UEAM).
As instituições de ensino e pesquisa representadas foram a Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).