Na prática das atividades do projeto BEM VIVER, em meio as visitas realizadas nas residências das pessoas com deficiência no município de Santarém no Oeste do PARÁ, ficamos encantados com a história de vida de Fernando Santos da Silva de 35 anos.
Deficiente físico há 2 anos, com o membro inferior esquerdo amputado em decorrência das sequelas da hanseníase natural do estado do Maranhão casado com Roseli, venezuelana e seu filho de 4 anos, nascido na Venezuela, atualmente, mora no mesmo terreno com sua mãe, com um imóvel dividido para duas famílias no Bairro da Nova República.
Diante da realidade social política e econômica que se encontra aquele país vizinho em meio a calamidade e a pobreza, resolveu voltar para Santarém em 2018 a procura de oportunidades.
Junto a sua esposa precisou se reinventar, ela fez um curso de Auxiliar de saúde bucal e logo conseguiu um emprego na área através de um amigo.
Em 1997, na época com 7 anos de idade, surgiu uma mancha em seu braço, mas somente no ano 2000, foi diagnosticado com Hanseníase. Com o tratamento tardio, perdeu a sensibilidade das mãos e dos pés, esses membros apresentavam atrofiamentos, após um longo tratamento perdeu primeiramente um de seus dedos do pé.
Em 2006 surgiu uma úlcera na planta dos pés que logo depois estourou ocasionando, uma ferida que nunca sarava, e para não agravar a sua situação os médicos tiveram que realizar uma amputação trans tibial a 15 cm abaixo do joelho esse procedimento foi feito em Boa Vista, no estado de Roraima a 2 anos, Fernando usa prótese a 1 ano e 6 meses.
“Antes eu era uma pessoa mais movimentada, com certeza, eu era mais elétrico, para caminhar, para ir ali, para andar de bicicleta, tinha aquela disponibilidade, tinha aquela saúde… antes da doença, antes da amputação […], trabalhava como ajudante de pedreiro, limpava quintal, vendia laranja na feira, tudo isso.”
Hoje, “apesar de estar casado, e ter essa necessidade, de até dá um trabalhinho a mais, hoje sou mais lento, porém consciente bem mais preparado, bem analisado na vida, então é essa pessoa é o que eu sou hoje, cuido dos afazeres domésticos, enquanto minha esposa trabalha com auxiliar de dentista, realizo pequenas atividades como cozinhar, pintar” atividades essas dentro de suas limitações.
“Tive que formatar minha mente para uma situação dessa, era aquela questão: comigo mesmo; eu não aceitava, os comentários com relação ao meu pé, sobre uma perda futura, me entristeciam imensamente, me preocupou, perdia meu sono a noite, mas logo depois eu precisei tomar um remédio muito amargo (reconhecer) e senti a necessidade de processar que eu preciso me preparar para a possibilidade de viver isso.”
“Foi um processo adaptativo gradual, pois o meu corpo reconhecia a presença do pé amputado, cai sozinho muitas vezes, agora eu ando melhor, com o apoio da prótese, já consigo destacar os obstáculos e calcular o meu andar.
Hoje eu me aceito, eu vejo que tem muita gente em situação pior que eu, comecei a me aconselhar a trabalhar em mim, encontrando forças próprias com minha família, pensei em não desistir da minha vida, foi um reencontro e enxergo a vida com outros olhos.”
Fernando é uma pessoa positiva, segura, comunicativa, com autoestima elevada, acolhedor e tem muitos atributos, sua alegria é contagiante, é um ser humilde e esperançoso, e isso ajudou muito em seu processo de aceitação.
“O processo de discriminação foi vivenciado de forma tão profunda, inclusive na escola por parte dos coleguinhas de classe, em função da coloração da minha pele – meu principal sintoma agudo da hanseníase algo perceptível – que levou a distanciamentos, conversas sobre a minha pessoa, houve um momento que sai da escola por conta disso, eu senti uma tristeza muito grande, porque eu não tinha vivenciado essa situação de não ser aceito, de alguém não me querer, não voltei á escola , foi muito doloroso, por outro lado, tive um acolhimento em casa de alguns colegas, inclusive, da minha professora.
Hoje é perceptível que as pessoas são mais acolhedoras, o motorista do ônibus é atencioso, as pessoas disponibilizam seus lugares, ajudam quando necessário, as pessoas estão bem-educadas são, mais amáveis. Com relação a mim, a opinião dos outras não me interessa talvez pela forma como eu vejo a vida de forma positiva e extrovertida, o que importa é a vida, eu fecho os meus olhos para as coisas que não valem a pena ver.”
Fernando é associado recente da Associação dos Deficiente Físicos de Santarém ADEFIS, foi contemplado com a proposta do projeto BEM VIVER, que visa incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho após um processo de capacitação e promoção de acessibilidade social.
Com relação a adesão ao projeto, declara:
“Fico tão feliz com essas iniciativas como o Projeto BEM VIVER, vejo uma oportunidade para dá um salto para conquistar os meus sonhos, conseguir um emprego talvez, o projeto é uma esperança de dias melhores para nós deficientes, estou ansioso para complementar meu conhecimento e minha renda, através de um emprego. O meu encontro com o projeto fez eu observar que, existem pessoas compromissadas com a condição humana, e que eu não estou sozinho, me sinto importante, acolhido em saber que tem alguém que nos defende, ouve o nosso grito de socorro, eu sou testemunha dessa alegria.”
“Serei um parceiro, levantarei essa bandeira e, ajudarei muitas pessoas a se reencontrarem, será um prazer contribuir com sociedade assim, como eu estou tendo uma nova chance de estudar, me formar, me profissionalizar e conseguir um emprego. Vestirei a camisa e lavarei a mensagem do projeto a todos.”
Sucintamente ele agradece: “o sentimento é de gratidão, a ADEFIS, BRASA, e a AIFO que estão mudando a minha história com pequenos gestos de gratidão ao próximo, eu nunca me senti tão útil e entusiasmado com a vida. Obrigado por vocês existirem.”
A história do Fernando foi publicada na revista bimestral da AIFO, com imagens de Nayara Pereira Figueira Ozório.
Revista Amigos de Follereau pelos direitos dos últimos – Maio/Junho