A Brasil, Saúde e Ação (Brasa) e a Associação Italiana Amigos de Raoul Follereau (Aifo), assim como o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL/SP), ativistas de direitos humanos e militantes das áreas de assistência social, estão solidários com o padre Julio Lancellotti, de 69 anos. O apoio foi oficializado durante uma audiência pública, na Assembleia Legislativa de São Paulo, organizada por Giannazi, que considera insulto às liberdades coletivas os ataques contra o coordenador da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo.

O sacerdote, que é pároco da Igreja de São Miguel Arcanjo, na região da Mooca, centro de São Paulo, e trabalha com moradores de rua há mais de 34 anos, está com sua vida em perigo. No penúltimo final de semana de março deste ano, o presbítero católico foi ameaçado virtualmente de morte. As suas páginas nas redes sociais, como a no Facebook, foram invadidas por inúmeros textos intimidatórios. Todos instigando o ódio e lhe sentenciando à morte, por defender moradores em situação de rua. As publicações eram assinadas por profissionais liberais e comerciantes do bairro.

Fotos: Divulgação/Gabinete Giannazi

Em uma das mensagens, o agressor, um advogado, conforme o padre, diz “morte ao padreco”. Um outro comentarista diz “Tem que começar mandando esse padre pro inferno, e depois seus seguidores…”, sendo saudado com aplausos virtuais. “O discurso de ódio sempre existiu. Mas esses intolerantes, antes, ficavam restritos, não se impunham. Nesse momento que estamos vivendo, sinto que essas pessoas se sentem livres, não tem mais o menor pudor e se sentem legitimadas para falar o que bem entenderem”, afirma o padre.

A investigação sobre os ataques virtuais estão sendo realizadas pelo Ministério Público de São, desde o último dia 19 de março, quando, por orientação das advogadas Valdênia Paulino Lanfranchi e Juliana Hashimoto Bertin, o padre enviou ofícios ao procurador-geral do MP/SP, Walter Paulo Sabella, e ao subprocurador de Políticas Criminais e Institucionais, Mário Luiz Sarrubbo. O documento é assinado pelo arcebispo metropolitano de São Paulo, dom Odilo Scherer, o bispo auxiliar de São Paulo, dom Luiz Carlos Dias e mais de 200 outras entidades ligadas aos direitos humanos e por pessoas físicas. “Estamos entrando num nível de radicalismo em que os limites foram esbulhados. As pessoas desejam e festejam a morte de outras!”, alertou.

Além de acompanhar a atuação do MP/SP, o parlamentar Giannazi assegura que  atuará pela regulamentação da Lei 16544/2017, que institui a Política de Atenção Específica para a População em Situação de Rua. A norma prevê a formação de comitês para gestão e acompanhamento de todas as ações no âmbito do Estado e dos municípios paulistas. O monsenhor Lancelloti tem sob sua responsabilidade a coordenação da Casa Vida, criada por ele há 27 anos, com o propósito de abrigar e cuidar de crianças com o vírus da Aids, muitas delas, provenientes da antiga Febem. Ele também é membro da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo. 

Décadas de ódio

Participaram do ato Maria Nazaré, do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana; Paulo Pedrini, coordenador da Partoral Operária; padre Paulo Bezerra, pároco em Itaquera; Antonio Carlos Ribeiro Fester, da Comissão de Justiça e Paz; Alderon Costa, ouvidor da Defensoria Pública; o professor Plínio de Arruda Sampaio Júnior; a militante Marietta de Azevedo Sampaio; o ex-deputado estadual Adriano Diogo, entre outros.

Júlio Lancellotti afirmou que sofre há décadas hostilidades e calúnias por conta do seu trabalho, mas que as ameaças à sua vida começaram nos últimos dias, depois de a Prefeitura de São Paulo, ter expulsado, com todo tipo de violência, um grupo de moradores de rua do Parque da Mooca (http://www.bandnewsfm.com.br/2018/03/19/19725).

Lancellotti citou uma frase do papa Francisco, para explicar o que considera um higienismo social deflagrado pela municipalidade paulista. “O capitalismo fabrica a pobreza e depois quer escondê-la. Não suporta ver o seu principal produto, que é a miséria, a espoliação, a destruição”. O sacerdote se diz preocupado com a política excludente adotada pela Guarda Civil Metropolitana e a Polícia Militar, pela qual os moradores em situação de rua “são tratados como se não tivessem direito a nada; nem à própria dignidade”.

Foto: Portal das Cebs

Ruas paulistanas

A Região da Praça da Sé concentra 3.864 moradores, metade da população que pernoita na rua em São Paulo, estimada em 7.335 pessoas. Outras 8.570 pessoas dormem em abrigos, de acordo com o censo de 2015. As entidades que lidam com a causa asseguram que chega a 25 mil a população em situação de rua.

Para Lancellotti, os ataques são motivados pelo ódio ao pobre e à população em situação de rua e conta com uma articulação que envolve a PM, GCM, os Conselhos Municipais de Segurança, associações de bairro e até subprefeituras. O religioso garante que não sente medo das ameaças, mas apenas tristeza.

Foto: I Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua 

“Estão usando os moradores para me atingir. Eles falam cada coisa, eles xingam, eles têm muito ódio. Ainda ontem soube que moradores de uma região aqui do centro foram agredidos de madrugada por guardas e policiais que diziam ‘você é amigo do padre, então? Cadê ele?’. Eu imagino que eles não vão vir até mim. No final das contas, quem sofre é quem está na rua. São forças neoconservadoras, forças raivosas que acabam surgindo como uma onda”, analisa. (Material produzido a partir de edições do Portal Pragmatismo Político, Uol, El Pais, Luis Nassif Online e o Estado de S.Paulo, assim como release da assessoria de imprensa do deputado estadual Carlos Giannazi – PSOL/SP)