A hanseníase ainda hoje é um importante problema de saúde em vários países da África, Ásia e América Latina, onde persistem condições socioeconômicas precárias que favorecem a transmissão da doença.
Claramente, uma vez que medicamentos eficazes estão disponíveis, a principal estratégia para o controle da doença é baseada no diagnóstico e tratamento precoces, mas na história da hanseníase um ponto é claro: o controle da doença, com efeitos duradouros, requer melhora socioeconômica da população. Devido às dificuldades de acesso e à má qualidade dos serviços de tratamento, o diagnóstico geralmente ocorre tardiamente e a pessoa afetada é, portanto, apresentada com deficiências físicas irreversíveis.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), existem mais de três milhões no mundo de pessoas com deficiências graves causadas pela doença que requerem cuidados diários. As incapacidades, além de determinar uma importante carga de saúde a longo prazo, tendem a perpetuar o preconceito e o estigma e muitas pessoas, após o tratamento, permanecem isoladas, segregadas, sem trabalho e sem possibilidade de reintegração social.
O curso da doença
Graças à introdução do tratamento padrão da OMS, resultados notáveis foram alcançados com uma diminuição expressiva no número de pessoas registradas para tratamento. Nos últimos trinta e seis anos, cerca de 15 milhões de pessoas foram tratadas.
O número de pessoas registradas sob o tratamento (a “prevalência do registro”) é universalmente usado para estimar sua importância do ponto de vista da saúde.
A esse respeito, a OMS indica que não é mais um problema de saúde pública quando a taxa de prevalência é inferior a uma pessoa em tratamento para cada dez mil habitantes. Muitos dos países endêmicos alcançaram esse objetivo, mas isso causou uma redução da guarda e hoje, nesses países, a hanseníase não é mais considerada uma prioridade. Isso levou à seguinte situação:
1. redução dos serviços de tratamento, após a redução da cobertura geográfica dos programas de controle;
2. diminuição de pessoal adequadamente treinado em serviços de tratamento;
3. altas taxas de incapacidade em pessoas diagnosticadas anualmente devido a um diagnóstico tardio;
4. redução das atividades de controle de contato, com provável aumento da possibilidade de infecção e transmissão da doença;
coleta de dados insuficiente e inadequada.
Um dado certamente importante para estimar a evolução e o curso da doença no mundo é o número anual de pessoas diagnosticadas.
Segundo dados publicados pela OMS em agosto de 2018, em 2017 foram diagnosticadas 210.671 pessoas, sendo 82.922 mulheres (39,3%), com redução moderada em relação ao ano anterior (217.968 em 2016). Índia é o primeiro país no mundo por número de casos (126.164), seguida do Brasil (26.875) e da Indonésia (15.910), cuja soma corresponde a 80,2% do total mundial.
Outros países com um número significativo de pessoas afetadas (mais de 1.000) são: Bangladesh, República Democrática do Congo, Etiópia, Filipinas, Madagascar, Mianmar, Moçambique, Nepal, Nigéria, Sri Lanka, Tanzânia.
Se considerarmos os dados da Tabela 2, notamos que o número de pessoas diagnosticadas nos últimos anos
diminui lentamente, certamente não como esperado. Não só isso, mas em três áreas geográficas o número anual de pessoas diagnosticadas aumentou significativamente: na Região Africana 1.032 pessoas a mais, nas Américas 1.745 (das quais 1.657 no Brasil), no leste do Mediterrâneo 818. Um ligeiro aumento também foi visto no Pacífico Ocidental (mais 170 pessoas).
Defenda os direitos
Tudo isso mostra que a interrupção da cadeia de transmissão da doença não depende apenas de parâmetros microbiológicos e epidemiológicos, mas torna-se a expressão de um trabalho que pretende defender os direitos das pessoas afetadas, revitalizando sua dignidade. Os objetivos dos planos de controle da hanseníase em países endêmicos não podem mais ser focados apenas no diagnóstico e tratamento das pessoas afetadas.
Para combater a doença, é necessário promover uma abordagem multissetorial que inclua: programas de reabilitação física de pessoas com deficiência, educação em saúde e informação para a população em geral e reabilitação sócio-econômica dos afetados. Ou seja, programas de controle que levam em conta os determinantes sociais ligados à transmissão da doença.
Estratégias para o futuro
O número anual de pessoas diagnosticadas é certamente um dado importante, mas não suficiente avaliar o perfil de saúde da hanseníase no mundo.
Por esta razão, para definir o impacto global hoje, em termos de saúde pública, no futuro será necessário utilizar outros indicadores, entre os quais os seguintes são muito importantes:
– A porcentagem de crianças (menores de 15 anos) entre os afetados. Infelizmente ainda é alta em vários países endêmicos, indicando que a cadeia de transmissão ainda está ativa e precoce. Em 2017, entre as pessoas diagnosticadas, 16.979 (8,05%) tinham menos de 15 anos;
– A porcentagem de pessoas diagnosticadas com deficiências graves (diagnóstico tardio). Esse número ainda é alto, devido ao número insuficiente e à baixa qualidade dos serviços de diagnóstico e tratamento. Em 2017, entre as pessoas diagnosticadas, 12.189 (5,78%) apresentavam incapacidades graves, das quais 238 tinham menos de 15 anos.
O artigo original está disponível aqui: http://www.aifo.it/informazioni/news/articolo/combattere-la-lebbra-la-strategia-di-aifo-spiegata-dal-dott-gazzoli