Em Manaus, nos dias de 18 a 21 de outubro, aconteceu uma etapa muito importante do projeto Sonhação (Sonhos em Ação), projeto dedicado à troca de experiências e experimentação com relação a diferentes modelos e culturas de saúde e cuidado, colocando em contato práticas de saúde coletiva da Itália (especificamente da Região Emília-Romanha) e do Brasil. No Brasil, conectando realidades diferenciadas e dialogando entre territórios do Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Maranhão e Amazonas. Tudo isso unindo educadores populares, organizações da sociedade civil como BRASA, COSPE e AIFO, institutos de pesquisa, universidades em um significativo abraço de partilha e aprendizagem.
A etapa de Manaus de Sonhação foi dedicada à escuta e ao diálogo com as experiências de cuidado dos pajés e das parteiras dos povos originários da Amazônia, na ótica de permitir trocas significativas entre experiências de medicina indígena com a visão do cuidado de outras regiões do Brasil, e também com um proveitos diálogo com a dimensão biomédica da medicina ocidental.
Os três dias de Manaus constituíram uma série muito interessante de encontros e de relatos de experiências, pois a ideia original de incluir inequivocamente o ponto de vista dos povos originários no projeto Sonhação significa que a mudança nos processos com que construímos o cuidado não é apenas um ajuste técnico, mas toca os fundamentos das premissas de cuidado e saúde.
No relato que pajés e parteiras fazem de si mesmos, de como vivem, da cultura que sustenta suas vidas, de fato eles e elas permitem entender melhor os problemas, as dificuldades de quem vivencia a dimensão urbana, tecnológica e ocidental do “provar a fazer” cuidado e a necessidade de reconstruir maneiras diversificadas, mais humanizadas de construir saúde.
É fundamental partir também da experiência destes povos originários que, mesmo no meio de riscos graves para sua sobrevivência, praticam medicina e cuidado com uma visão teórica e prática que um olhar “branco”, “ocidental” distraído e superficial pode chamar de exótica ou alternativa, mas que é abrangente, integral e recheada de significados.
E, assim, também com encontros como esse de Manaus vamos criando caminhos de diálogo entre diferentes práticas de saúde, tendo como centro a visão do conceber, idealizar e praticar saúde, mais do que simplesmente tratar doenças: focar na integralidade do ser, na sua relação com o mundo afora, na dimensão da vida humana como parte de um processo maior da natureza.
Os encontros aconteceram no Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, que tem o propósito de oferecer os cuidados à saúde das pessoas, a partir das práticas de cuidado de saúde indígenas, por meio de atendimento de especialistas (pajés) e de plantas medicinais. O Centro visa o incentivo à cultura, a crença e ao trabalho de especialistas indígenas trabalhando para que o Brasil desenvolva mais centros de medicina indígena especializada pelo Brasil.
No referido Centro funciona também a Primeira Casa de Comida Indígena do Brasil, Biatüwi, e os/as participantes do encontro tiveram assim a oportunidade de saborear os excelentes pratos da tradição culinária dos povos originários da Amazônia durante as várias rodadas de reuniões.