Após viver em uma colônia de isolamento, Geraldo Cascaes é um ativista importante no movimento social pelos diretos das pessoas acometidas pela hanseníase
Geraldo Moura Cascaes tem 79 anos e mora em Marituba, no Pará, desde que o território era colônia de isolamento para pessoas enfermas de hanseníase. A doença apareceu cedo em sua história, tinha apenas 10 anos quando foi diagnosticado e encaminhado compulsoriamente para o tratamento na cidade em 1974. Conheceu a esposa, teve seus filhos e de Marituba nunca mais saiu.
Janeiro roxo e o Dia mundial do combate a hanseníase são estratégias para lembrar que apesar de ser uma das doenças mais antigas, ainda é um enorme desafio sanitário a ser combatido. No Brasil, o diagnóstico apresenta complexidades, seja pela falta de capacitação, a falta de informação e o estigma que o desconhecimento sobre as formas de transmissão e sobre a existência da cura, além das sequelas físicas decorrentes da doença. Nesse contexto, a pessoa acometida pela doença pode ser excluída do seu meio (amigos, família, trabalho e outros). O estigma é representado por um conjunto de fatores (crenças, medos e valores) que podem causar prejuízos à saúde física e psicológica e à vida social.
Assista o vídeo em que o Professor de educação em Saúde, Ricardo Ceccim conta um pouco como eram as colônias de isolamento:
O leprosário, como eram chamadas as colônias de confinamento compulsório, além de adultos, recebia meninos e meninas em pavilhões infantis distintos. Todas as atividades eram feitas pelos próprios internos: “Lá no pavilhão fazíamos tudo, a gente varria, arrumava os quartos, arrumava as camas, passava pano.” Ele lembra morarem 32 meninos juntos e os mais velhos eram incumbidos de buscar a medicação de todos eles.
Geraldo explica que a colônia abrigava uma praça chamada parlatório, em que os hansenianos podiam receber visitas, mas ficavam separados por um muro, não podiam ter contato direto com as pessoas ditas sadias, nem amigos, nem familiares.
Dia mundial da Hanseníase: Educação que se transforma em saúde e solidariedade
Até os dias atuais, a cidade de Marituba faz campanhas de conscientização sobre a hanseníase em eventos tradicionais e religiosos, como o mais famoso, Círio de Nazaré. Muitos desses momentos são promovidos por um parceiro local da BRASA, A Unidade Regional Especializada (URE) Dr. Marcello Candia. O espaço é há mais de 30 anos referência no acolhimento, cuidado, e de capacitação de agentes e médicos da região, o nome da URE se dá em homenagem ao médico italiano de mesmo nome.
Geraldo Caiscaes presenciou toda história da URE desde a sua criação, conta ter conhecido o médico que ao longo dos anos foi trazendo profissionais para desenvolver o dispensário que antes era apenas um anexo ao prédio da Secretaria Municipal de saúde.
Hoje, Geraldo é voluntário do Morhan (Movimento nacional de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), outro parceiro da BRASA em projetos sociais de interlocução com secretarias de saúde, universidade e toda a comunidade para combater a hanseníase, ampliando a capacidade do diagnóstico, a reabilitação, o tratamento e especialmente a difusão de informações para acabar com o preconceito.
“Nós cobramos pelos direitos dos nossos companheiros, às vezes incomodamos algumas pessoas, mas é o que podemos fazer.” Quando questionado sobre as dificuldades do trabalho, ele responde: “Às vezes tem secretario de saúde que nem do estado é, não sabe nem a situação da nossa região, e os gestores vão se alternando sem saber o que está sendo feito e as ações públicas acabam perdendo a continuidade.”