Laboratório Ítalo-Brasileiro de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva: artesanários, entrelace cenopoético e o design da horta mandala

O Laboratório Ítalo-Brasileiro de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva, em sua 11ª Edição, aconteceu de 22 a 26 de novembro de 2021, em Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, sob o tema “Vidas: co(m)vivências na e com a pandemia”. A chamada foi a vida no plural, a pandemia não trouxe apenas doença e morte, mas a luta das vidas que resistem, afirmando, sobretudo, o viver, o não deixar morrer, o fazer viver em meio ao plural das existências. Não é uma vida que resiste ou vinga ou se afirma, são vidas, a multiplicidade, a pluralidade a força do existir diverso e pulsátil.

O eixo central da 11ª edição do Laboratório Ítalo-Brasileiro de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva foi conduzido por “Artesanários”, uma metodologia de interlocução criada no Rio Grande Norte, pela poeta, cantora e assistente social da área de saúde mental, Paula Érica Batista de Oliveira. Um artesanário não é como um seminário ou um webinário, é um “amostramento” das nossas artes de expressão, incluindo nosso trabalho profissional ou científico como uma composição do pensar-agir-querer. Cada artesanário, então foi armado com “relatores” e “entrelaces cenopoéticos”.

Quanto aos relatores, a ideia foi romper com a noção de palestra ou conferência, convidando narrativas (desde si e seu empenho na construção do conhecimento ou desenvolvimento de práticas). Além da presença dos relatores, a presença direta de artistas populares, tomando suas palavras, intervindo em suas palavras, lançando ou relançando palavras aos que participam da experiência presencial ou remota. Também a cenopoesia, presente na proposta do“entrelace cenopoético” é uma invenção do semiárido brasileiro, criada pelo poeta paraibano Ray Lima, professor de literatura e ator popular. A cenopoesia é parte do projeto de educação popular por meio do teatro-educação e da poesia, como arte com palavras.

No 11º Laboratório Ítalo-Brasileiro de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva os artesanários foram eventos narrativos em ciência e profissão com entrelaces cenopoéticos (ainda que sejam ou possam ser eventos culturais com entrelaces narrativos em ciência e profissão). Os artesanários foram os componentes intelectuais do eixo central do Laboratório.

Cada artesanário teve um curador preocupado com a coreografia de relatores e entrelaces cenopoéticos, escolhendo as entradas, substituindo ausências e inserindo as artes locais ou vivas emergentes de artistas escolhidos. Os entrelaces puderam ser ao vivo exatamente como o foram os relatores ou foram uma apresentação em vídeo por eles enviadas, ou pinçadas pelo curador segundo seu sentimento com a circulação da palavra. A atenção do curador implicava localizar em seu arquivo mental das artes uma linguagem comunicativa com os relatores.

O design geral do Laboratório foi a “horta mandala”, tecnologia social que alia produção agroecológica de hortaliças, frutas e forrageiras com a criação de peixes e/ou aves, além dos reservatórios de água e, eventualmente, criação de caprinos ou apicultura. Uma variedade de espaços se intercepta e alimenta, isso é importante entender na convivência com o semiárido. A horta mandala, popular no semiárido brasileiro, especialmente nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco, possui estrutura circular de plantio e se organiza pela diversidade da atividade agrícola e pecuária. Cada círculo (ou cada segmento) favorece o vicejar do outro ou compõe os revezamentos das épocas de plantio, brotação, florescimento e colheita. O sistema contribui para aumentar a renda dos moradores de áreas rurais de pequeno porte e estimula a produtividade em grupo entre os agricultores, sendo fonte de alimento para as famílias e cooperativas de produtores rurais.

mandala com a palavras "vidas" no centro, em uma segunda dimensão, as palavras em forma circular

 

No Laboratório, existiram os segmentos de atividade central (artesanários) e ainda atividades satélites, como no design da horta mandala: 7 segmentos de artesanário com entralacescenopoéticos, 4 trilhas (visitas presenciais); cinequidade; minicursos; Feira de Economia Solidária; Tenda Paulo Freire; Mostra de Atenção Primária; Grupos Colaborativos; Roda de Gestão da Educação na Saúde; Oficina de Compartilhamentos Brasil, Itália e Espanha; Programa Especial Minuto Mais Saúde Brasil-Itália junto à Rádio Literária Carrapato – todos os sábados de novembro (no Ceará) e, por fim, Tenda do Conto. Outra vez uma tecnologia social em saúde, a Tenda do Conto foi criada pela enfermeira de família e comunidade Maria Jacqueline Abrantes Gadelha,da rede de atenção básica da Secretaria Municipal de Saúde de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Tal como o Círculo de Cultura, as Rodas de Conversa e a Terapia Comunitária, a tenda do Contogera uma prática dialógica caracterizada como metodologia participativa. A Tenda do Conto nasceu dirigida aos trabalhadores em serviço, cujo método envolve transformar em contos as histórias e práticas do trabalho cotidiano. Serve à produção de sentidos, construção de significados e ressignificação, por meio da experimentação, da desindividuação e da problematização.

 

A curadoria do modelo competiu ao Dr.Ricardo Burg Ceccim, professor da área de pesquisa e ensino em Educação, assim como da área de saúde mental coletiva, à Dra.Lorrainy da Cruz Solano, enfermeira de saúde da família e comunidade, assim como da área de educação popular em saúde,e à Dra. Maria Augusta Nicoli, médica psiquiatra com doutorado em psicologia social e da área de gestão de sistemas e serviços de saúde. Ricardo é do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil, Lorrainy é do Estado do Rio Grande do Norte/Brasil e Maria Augusta é da Região da Emilia-Romagna/Itália.

Texto extraído de Blog da Rede Unida