As doenças chamadas de negligenciadas, recebem esse nome justamente por não receberem atenção da lógica do mercado. São males que afetam as classes sociais empobrecidas e se esse é um problema muito mais antigo do que a pandemia da covid-19, hoje atinge níveis ainda mais alarmantes.
Em entrevista para a BBC Brasil, chefe da área de pesquisa e desenvolvimento da DNDI (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas), Jadel Ktratz chama atenção para a falta de medicamentos que combatem as doenças como hanseníase, chagas e tuberculose.
Hanseníase, malária, tuberculose: pandemia reduz combate a doenças que afetam os mais pobres
Isso significa o agravamento do problema de saúde pública que antes já era controlado pela busca ativa e tratamento gratuito ofertados pelo SUS. Kratz explica que as DTNs (Doenças tropicais Negligenciadas) apresentam resistência aos medicamentos, então a interrupção do tratamento pode atrapalhar a eficácia dos remédios.
Os medicamentos usados no combate a hanseníase são antigos e trazem uma série de efeitos colaterais para o paciente, apesar de não serem ideais, são baratos, por isso, sua produção não recebe incentivo. Muitas farmacêuticas pararam de produzir as medicações, deixando estados brasileiros desabastecidos.
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“Além da diminuição dos investimentos, as próprias condições para os estudos foram dificultadas. Os estudos clínicos normalmente são feitos em ambiente hospitalar e muito descentralizados. Os estudos clínicos para outras enfermidades pararam. Ou porque o hospital está completamente lotado e precisa redirecionar todos os recursos para o atendimento emergencial ou porque ele foi fazer um estudo clínico para a covid-19. Tem levantamentos nos EUA que mostram que reduziu por volta de 80% o número de estudos clínicos rodando.” – Jadel Kratz para a BBC Brasil.
O especialista relata que vários laboratórios em universidades parceiras como a Unicamp, USP e UFRJ tiveram de fechar e com isso, interromper as pesquisas ali realizadas.
Não só pela pesquisa, o controle dessas doenças é envolvido por diferentes estratégias no campo como o controle do vetor, infraestrutura, administração de medicamentos, monitorar o paciente, a maioria feito nas Unidades básicas de saúde (ubs).
Porém, com a alta demanda da covid-19 nas unidades, doenças como a hanseníase que podem deixar sequelas para a vida toda, caem no ostracismo.
A BRASA constrói projetos que procurem romper com esse ciclo de negligência, pois negligenciar doenças significa negligenciar a vida de milhares de brasileiro.
Em parceria com Organizações da sociedade civil, universidades e órgãos públicos buscamos ampliar promover uma cultura de reconhecimento da hanseníase como doença evitável, livre de estigma e preconceito, que possa ser abordada em rede e por meio de ações sociais e de saúde, a fim de reduzir a incidência de novos casos.