Com as ideias constantemente atacadas pela extrema-direita, Paulo Freire completa 100 anos de legado na pedagogia mundial aplicada nos mais variados campos de estudos. Sua trajetória é permeada de lógica essencialmente humana, generosa, emancipadora, crítica e ao lado dos oprimidos.
Acredita-se que hoje, as obras de Paulo Freire são mais procuradas do que nos anos 90 pela alternativa de solidariedade e de amor que ensina em contraponto ao ódio e à falta de diálogo, perpetuados pelo intenso antagonismo que predomina no cenário sociopolítico atual.
Leia também: Mapa da vacinação aponta desigualdades na cidade mais rica do país
Mas o professor e filósofo não atuava apenas na teoria, colocava tudo em prática e militava pelo que acreditava até o fim de sua vida: alfabetizava os trabalhadores e era bem-sucedido porque ensinava conforme a sua realidade, auxiliando-o a vê-la de maneira opinativa.
Ensinava a escrever palavras como tijolo e dialogava com o trabalhador o que os conceitos representavam para eles no sentido além da palavra. Preferia organizar os alunos em círculo porque assim quebrava a hierarquia do ensino tradicional “depositário” em que os alunos recebem passivamente o conhecimento passado.
Paulo Freire atuou como Secretário municipal da educação na gestão de Luíza Erundina em São Paulo (1989 – 1992). Período em que foram criadas políticas públicas de educação marcantes para a educação, como o MOVA (Movimento de Alfabetização de jovens e Adultos) que resiste até o momento presente.
Banhava-se nos estudos marxistas e de Engels, mas também se inspirou na teoria cristã da Teologia da libertação, aquela comprometida com a transformação social em que se acredita que se deve estar ao lado do pobre, do índio e do negro e trabalhava para incluí-lo.
Em 1963, foi nomeado pelo ministro da educação, Darcy Ribeiro, a presidência da Comissão de Cultura Popular no mesmo ministério e sua primeira tarefa foi conceber um plano de alfabetização nacional. Na época o número de brasileiros analfabetos com idade de 15 a 45 anos era de 20 milhões.
As metas ambiciosas do plano de alfabetização, no entanto, foram interrompidas com o golpe civil-militar de 1964, e Paulo Freire foi preso como “subversivo e ignorante”, partindo para o exilo no Chile.
País onde escreveu sua obra mais famosa: Pedagogia do Oprimido. Nela, pregava a educação problematizadora frente a desumanização que a lógica econômica injusta promove. E a solução é a educação emancipadora como principal arma contra a alienação do oprimido, esse que não passaria a querer tomar o papel do opressor, mas construir coletivamente, a melhora a partir da sua realidade.
Foi em 1969 que foi convidado para ser Professor Visitante em Harvard, nos Estados Unidos e no ano seguinte passou a ser Consultor educacional no Conselho Mundial de Igrejas (CMI), assessorando Ministérios da educação de países africanos que até então eram colônias de Portugal entre eles: Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe.
Não acreditava em aplicar o mesmo método em diferentes locais, pois a experiência deveria se reinventar de acordo com cada contexto. Esteve em 30 países auxiliando na construção de projetos educacionais voltados para o combate às desigualdades sociais.
Segundo a matéria biográfica do Portal Brasil de Fato, Paulo Freire é citado em 1.461 dissertações de mestrado e em 363 teses de doutorado só no Brasil no período entre 1987 e 2011
Ao contrário do que a direita brasileira prega a respeito de Paulo Freire, sua metodologia não é de doutrinação porque tem como elemento central, o pensamento crítico e o conhecimento da realidade sem véus como essência da atitude transformadora frente a injustiças. Contrapondo ao pensamento doutrinador de um sistema totalitário.
Não só nos projetos educacionais da BRASA, mas em todos aqueles em que coopera, estabelece como principal força motivadora, o público. Com o objetivo principal de fazer com que consiga atuar na própria transformação social e de sua comunidade, não como um beneficiário, mas como principal ator e agente no desenvolvimento próprio.
Trechos de Brasil de Fato.