A que se deve o retorno de doenças que já eram consideradas erradicadas? Na última semana, o Ministério da Saúde divulgou que, até o dia 17 de julho, 677 casos de sarampo haviam sido registrados no Brasil só este ano. As situações mais graves são nos estados de Roraima e Amazonas, que chegaram a decretar situação de emergência ao longo do ano. “Oficialmente”, uma das causas para a reaparição desses surtos seria a entrada de imigrantes venezuelanos pela fronteira norte do Brasil. Mas um dos estados mais afetados é o Rio Grande do Sul. Há também a teoria de que o retorno do sarampo, de casos de poliomielite, difteria e outras doenças consideradas imunopreveníveis — evitáveis por meio de vacinação –, se deveria ao fato de existirem justamente campanhas antivacinas circulando nas redes socais. Há alguma verdade nisso?

Para o professor do Curso de Saúde Coletiva da UFRGS e médico com formação em medicina comunitária Alcides Miranda, as explicações para o retorno de doenças imunopreveníveis estão inseridas em um contexto maior, de desarticulação do Sistema Único de Saúde (SUS), que atinge especialmente a rede de atenção à saúde básica. “Além do aumento da mortalidade infantil, que foi identificada agora, tu já tens projeções que foram feitas, como um estudo da Fiocruz, de que, nos próximos anos, essa proporção vai aumentar ainda mais e num perfil de mortalidade infantil que é evitável”, diz o professor.

Alcides estima que veremos um aumento geral de casos de doenças que poderiam ser tratadas, ou ao menos controladas. Ele prevê maiores índices de câncer, não só pela desconstituição da rede pública de saúde, mas também pela liberação de agrotóxicos nocivos à saúde. Mas, especialmente, o que ele estima é um resultado negativo no tratamento de doenças crônicas, aquelas que não têm cura e precisam de cuidados durante toda a vida do paciente, como a diabetes e a hipertensão. “As pessoas mais pobres, despossuídas, o diabético, aquele que tem uma complicação cardíaca, o hipertenso, ele vai ter todas as complicações imagináveis. Nós provavelmente vamos ter aumento das complicações relacionadas a essas doenças por falta de cuidado continuado e por falta de medicamento”, diz Alcides.

Em contrapartida, a aposta de governos como o de Michel Temer seria de entregar cada vez mais fatias do mercado de saúde ao sistema privado, o que acaba também por se relacionar a essas doenças que poderiam ser evitadas, uma vez que é um setor que lucra com a cura de doenças, não com a prevenção. “A Bayer comprou a Monsanto. Agora, tu vai ter a Monsanto envenenando e a Bayer vendendo o tratamento para o envenenamento ao longo dos anos. Então, o mesmo conglomerado que envenena vai vender o tratamento”, exemplifica.

Leia a matéria completa, do jornalista Luís Eduardo Gomes, e a entrevista ao professor Alcides Miranda