Nos últimos anos, se tornaram consideráveis os fluxos migratórios que se direcionam para a Europa procedendo de países africanos e do Oriente Médio, e onde há guerras e/ou pobreza, em grande parte consequência de ações que os mesmos países europeus contribuíram a criar. Este fenômeno, que não é nada de novo ou excepcional na história humana, gerou, nos países europeus, um acirramento das sensações de indisponibilidade à acolhida, e até de aberto racismo, com relação a esta onda migratória, especialmente naqueles países onde a maior parte deste migrantes chega, e precisa de receber uma primeira acolhida. Entre eles, a Itália: país que geralmente é de passagem para os migrantes, pois não está oferecendo hoje em dia um panorama econômico convidativo para eles. Porém, mesmo assim, e na ausência real de uma verdadeira emergência nas formas declaradas pela mídia e por boa parte dos políticos, os sentimentos de hostilidade se consolidaram na Itália, ao ponto que um partido que age declaradamente discriminando os migrantes e enaltecendo a sensação de que eles trazem insegurança e violência, está hoje entre os dois que governam o país. Neste clima bastante difícil, AIFO, que desde 1961 está presente em vários países do mundo com o objetivo de defender e promover os direitos humanos. se posiciona publicamente sobre um evento recém acontecido: a prisão de um prefeito italiano, Doménico Lucano, acusado de favorecer a imigração clandestina, mas cuja gestão, na cidade de Riace (Calábria, no sul do país) representa, no olhar de muitas pessoas atentas aos direitos básicos do ser humano, um exemplo positivo e importante de acolhida e inclusão social.
A seguir, o release de imprensa que AIFO publicou o dia 03 de outubro de 2018 sobre estes acontecimentos.
O dia 3 de outubro foi declarado o Dia Nacional da Memória e Hospitalidade, dia que quer lembrar de todas as vítimas da imigração a partir daquele naufrágio fatal de 2013 em Lampedusa, quando 368 pessoas morreram.
Enquanto isso, o governo escapa à tarefa de hospitalidade aplaudindo a prisão do prefeito de Riace, Doménico Lucano. A justiça fará o seu curso (lento), mas enquanto isso Riace permanece, mais do que nunca, um laboratório de possível acolhida, especialmente na ausência de uma política de integração, com leis injustas, se julgadas à luz dos direitos humanos. A desobediência civil, permanece em um país como o nosso, o meio extremo de combater essa desumanidade que, de tempos em tempos, acaba afetando a todos nós.
Cinco anos após o trágico acontecimento de Lampedusa, a memória parece esvaecer. Segundo dados do ACNUR, 17.900 migrantes e refugiados morreram ou estão desaparecidos no Mediterrâneo, desde então. Um preço inaceitável que foi atingido pelo desmantelamento progressivo dos mecanismos de resgate, fazendo guerra contra o apoio das associações humanitárias, fechando os portos. Acima de tudo, o escândalo da morte foi realocado em outro lugar, porque, certamente, impedindo os migrantes de tomar o mar não se diminuem as vítimas do tráfico de seres humanos, além do sofrimento e humilhação. A Líbia, e não apenas ela, é um dos territórios dessa provação atroz.
Até mesmo a recepção permaneceu completamente inadequada. Não é apenas uma questão de números, é acima de tudo um problema de política. Na Itália, quando o fenômeno surgiu nos anos 80 do século passado, a política não queria enfrentar o fenômeno porque não o queria, como se fosse possível ignorá-lo. Pretendeu-se parar com a remoção dos canais legais de entrada na Itália. As consequências vieram à tona, começando com um grande número de migrantes irregulares. As estruturas criadas são em grande parte insuficientes, na maioria dos casos gerenciadas com meios limitados, e a isso se acrescentou um aparato administrativo muito lento. É destas escolhas que nascem as dificuldades que uma determinada política explorou para fins eleitorais.
Acrescente a isso a falta de uma política de integração, sem a qual a recepção se torna apenas um perigo. A integração envolve medidas legislativas, administrativas e educacionais, começando com a língua italiana e a Constituição, além de medidas sociais e econômicas, começando pelo trabalho. A Itália, pelo contrário, forçou os imigrantes a ser os novos escravos da economia paralela (para aqueles que não querem ver, muito está ocorrendo em plena luz do dia no nosso campo) ou espectros dos bairros e territórios degradados e marginalizados.
Associação Italiana Amigos de Raoul Follereau (AIFO)
Organização para a Cooperação Internacional em Saúde
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