A Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBS) é totalmente contrária a diminuição no tempo de tratamento dos antibióticos usados para o tratamento de hanseníase há quase 40 anos. Para a entidade “é fundamental que se olhe para o MDT-U (multidroga terapia esquema único) pelo prisma do paciente”. A pesquisa da Fiocruz Brasília (Fundação Oswaldo Cruz) e do Núcleo de Medicina Tropical da UnB (Brasília/DF) mostra que é possível reduzir de um ano para seis meses o tratamento da hanseníase. A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um artigo que também considera a possibilidade.
A maior preocupação dos especialistas é que, com o tratamento prolongado, alguns pacientes deixam de se medicar. Quando não tratados adequadamente, os pacientes transmitem o mal e sofrem com sequelas, como a perda de movimentos e deformações. A redução no tempo de tratamento — acreditam os especialistas — é a maior inovação desde 1981, quando as terapias contra a hanseníase passaram a ser disponibilizadas gratuitamente. À época, a medicação se estendia por dois anos.
Atualmente, os doentes com até cinco lesões na pele (paucibacilares/PB) tomam dois remédios por seis meses. Um contingente que significa cerca de 70% do total de diagnosticados com a doença. Aqueles com mais ferimentos (multibacilares/MB) ingerem até três por um ano. De acordo com os especialistas envolvidos na pesquisa, essa classificação confunde o médico.
O estudo comprovou que o esquema de três remédios por seis meses é eficaz para todos os pacientes. Os medicamentos são os mesmos usados atualmente. Ao todo, nome mil pacientes participaram do estudo, sendo que 853 deles foram acompanhados por seis anos.
O presidente da SBH, Paulo Bittencourt, alerta para o fato de que a multidroga terapia única (MDT-U) não foi debatido e será implementado de forma “unilateral”. Bittencourt garante que a reunião do Comitê Técnico Assessor (CTA) da hanseníase, no Ministério da Saúde, em abril passado, foi meramente informativa e não discursiva.
Considerando o preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil deveria apresentar cerca de um caso para cada 10 mil habitantes. Entretanto e considerando dados do DATASUS, o Brasil teve 32.152 casos da doença em 2017. O médico Werley Perez, ex-secretário de Saúde de Cuiabá (MT), garante que o MS está querendo extinguir a hanseníase do Brasil por decreto.
“O Brasil deveria alcançar esta meta em 2000, arrastou-se para 2015 e nunca vai bater, porque estão enxugando o gelo e aí querem fazer o MDT-U por uma questão mais política do que técnica, para melhorar a imagem do país junto a OMS e junto a sociedade. Mas nós estamos estagnados. Os números não mentem.” (leia o manifesta da SBH sobre a redução do tempo no tratamento – http://www.sbhansenologia.org.br/release/manifesto-das-sociedades-e-associacoes-medicas-contra-a-implantacao-do-esquema-unico-de-6-doses-mdt-u-para-tratamento-de-pacientes-de-hanseniase-no-brasil)