Estamos publicando alguns relatos de pessoas amigas da nossa associação, para entender como elas estão enfrentando a pandemia e sobre os demais temas que tangem o assunto: O isolamento social, as políticas públicas e as mudança nos hábitos para se adequar as recomendações sanitárias da OMS.

Somos uma entidade que pratica a colaboração internacional e que opera em seis estados brasileiros. Por isso, pensamos que algumas reflexões pudessem surgir ao revelar essas experiências, em distintas identidades sociais das pessoas com quem nos relacionamos.

Este texto de hoje foi enviado por uma amiga da BRASA que reside atualmente em São Paulo, próximo ao centro da capital. Enquanto publicamos esse artigo, a cidade contabiliza 12.634 óbitos e apesar da flexibilização do comércio, os níveis de contágio se mostram mais estáveis.

Esse relato é de 29 de Maio 2020 

Estamos nos isolando em 5 pessoas no bairro de Pinheiros, onde moramos próximo a rua Teodoro Sampaio. Todos nós passamos a trabalhar de casa desde que a quarentena foi anunciada no dia 23 de Março e pouco da nossa renda foi comprometida com a pandemia do novo coronavírus.

Exceto para dois dos nossos colegas de casa, que possuem um negócio próprio de alimentos veganos. Eles puderam optar entre manter o negócio funcionando ou fechar as portas; E foi isso que decidiram: atender apenas fazendo entregas e/ou vendendo produtos pré-requistados pelo Instagram da loja. Durante o dia, um deles sai para fazer entregas e o outro fica para atender aos que vem buscar a mercadoria.

Mesmo que eles sigam todas as precauções, essa atividade nos aflige bastante, pois ainda os coloca em contato com muitas pessoas de Segunda a Sábado.

Por sorte, a maior parte a minha preocupação, no momento é apenas voltada para o meu ânimo e para a minha saúde mental. Já que nunca sofri privações de necessidades básicas como a maioria dos meus colegas, profissionais da área da cultura. Classe cada vez mais prejudicada em políticas públicas e que também lutam para ter acesso ao auxílio
emergencial do governo.

Moro próximo também ao Hospital das clínicas, ao Instituto de Infectologia Emílio Ribas e ao Cemitério do Aracá. Lugares funcionando a todo vapor e palco para as aglomerações inevitáveis nessa pandemia. Funcionários dos hospitais da região frequentam a Feira de domingo, que acontece do lado da minha casa. Onde vão comer pastel e caldo de cana, vestindo o uniforme de trabalho e poucos usando máscaras.

Vejo da janela, grupos de pessoas correndo e andando de bicicleta sem a proteção recomendada para se estar na rua, Ouço meu vizinho idoso na porta de sua casa, conversando com quem vem a passar. Acompanho a situação política no Brasil em constante insegurança em qualquer futuro. Mesmo com 24 anos, estou totalmente incapaz de fazer qualquer plano para o futuro. Desacreditada no que é concreto e apegada ao amor de toda a minha família. Todos distantes fisicamente.

Essas são minhas inquietudes.

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