Dias de luta
(Só para lembrar a música da banda Ira.)
Acordei bem cedinho ansioso com o IV Encontro Vozes Femininas. Às sete horas a Cecília já estava arrumando em trancinhas o cabelo da Leona.
Saímos às oito e depois de duas baldeações chegamos à Estação Sumaré. A viagem foi tranquila e o atendimento foi muito bom. Embarquei e desembarque com facilidade e segurança em todas as estações. Só o fato de ir com minhas filhas já foi uma grande alegria. Ainda mais para uma discussão sobre feminismo.
Feliz também por saber que a Raissa iria, querida amiga e parceira, feliz pelo encontro da Leona com sua madrinha, Ana Rita.
Triste pelas ausências, já anunciadas, da Paloma e da Paolla. Que bom Marinalva, trazendo ideias.
Edir, sempre entusiasmado.
Gente nova no encontro. (O bolo de milho estava ótimo). A UNIBES é um lugar muito bonito e agradável. (Menos o banheiro acessível. Feio, difícil de utilizar).
Que alegria e orgulho ao ver que uma das maiores, mais respeitadas, mais admiradas feministas do Brasil estava lá! Raquel Moreno foi nos prestigiar. Tenho hoje a convicção de que o grande “pulo do gato” do movimento de pessoas com
deficiência não é a luta pela inclusão social como tem se dado, mas sim a inclusão e o fortalecimento na luta comum de outras minorias e grupos sociais oprimidos, saindo do isolamento que nos foi historicamente imposto e conquistando o reconhecimento, para o bem e para o mal, de que a nossa luta é comum à de muitos e uma luta para a superação das
injustiças contra todos.
A presença das mulheres das Residências Inclusivas, das advogadas do Escritório Mattos Filho,
nossos voluntários e voluntárias, minha Cecília…
A fala da advogada da Mattos Filho foi excelente! Envolvente, sem juridiquês.
Que linda a fala da Simoninha, que linda a Simoninha.
Dois depoimentos fortíssimos de mulheres abusadas. Uma moça com deficiência intelectual, hoje moradora em local seguro graças à uma política pública inovadora e eficaz, uma moça cega com um depoimento impressionante. Relatando a fuga de casa aos 14 anos de idade!
Uma criança cega fugindo de casa!
Ambas as situações de abuso e de violência ocorridas dentro de casa, cometidas por parente
próximo, bem próximo.
Creio que nós, da equipe do Vozes, não esperávamos por esses depoimentos, com a força e a crueza que tiveram. Nos impactou, nos emocionou muitíssimo. E como disse uma das próprias depoentes: nos fortaleceu a todos!
Hoje foi um dia marcante para o projeto Vozes Femininas, um dia para nossa história, um dia para o movimento de pessoas com deficiência, para as mulheres com deficiência.
Nosso compromisso redobrou, nosso ânimo cresceu, nossa cumplicidade enraíza.
Dias de felicidade
Fomos embora, eu e as meninas, andando pela Rua Oscar Freire. Almoçamos no Frevinho, onde por tantas vezes eu e a Rose, mãe da Cecília, nos embriagamos com uísque sour e Carpano Punt & Mes, comendo beirute de carpaccio com molho de alcaparras. Que foi o que comemos. Bebi Carpano.
Depois, umas comprinhas no Empório Santa Luzia, na Niaze em frente, onde comprei uma marmitinha com três divisões, mas deixando bem claro para a moça do caixa, e para o rapaz da segurança, que tratava-se de presente para minha diarista.
Prosseguimos caminhando até a Paulista subindo pela Augusta, com parada para descanso no Cine SESC. Ótimo atendimento no ônibus da volta, a cobradora perguntou se as meninas estavam comigo, disse então, que não precisavam pagar.
No domingo acordar cedo para palestra na Vila Nhocuné para o povo da FCD [2]. Esperam a participação de 200 pessoas. Vou falar sobre capacitismo [3].
São Paulo, 14 de setembro de 2019, sábado.
Inverno ainda.
2 Fraternidade de Pessoas com Deficiência.
3 O nome que se dá ao preconceito contra pessoas com deficiência.
*O Artigo foi escrito por Tuca Munhoz, colaborador e idealizador do Vozes Femininas.