Há 15 anos, criamos, eu, Ana Rita de Paula e Dna. Maria Amélia Vampré Xavier, o Fórum Residências Inclusivas – FRI, (sim FRI, uma alusão a free, liberdade!).
Realizamos centenas de reuniões e atividades, micro seminários, encontros com o Ministério Público, com a Secretaria de Estado das Pessoas com Deficiência de São Paulo, com a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo, com a Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Ministério dos Direitos Humanos, Ministério do Desenvolvimento Social, Ministério da Saúde etc.
Reuniões, contatos, conversas, teimosia, tristezas, alegrias, mas, sobretudo certeza. A certeza da verdade. A certeza de que lutávamos, e lutamos, por justiça.
Ana Rita com o desenvolvimento de teses acadêmicas, armas de militância e ativismo. Dna. Maria Amélia com sua luta, de décadas, pela dignidade de seu filho Ricardo. A certeza da luta pelos direitos humanos das pessoas com deficiências severas e de suas famílias, de suas mães. Uma luta de mães pela dignidade de seus filhos.
Eu, no ativismo, nos contatos, nas articulações, nas amarrações, convencimentos, compartilhamentos, no orgulho em ser uma pessoa com deficiência “jogando o corpo no mundo”.
Em 2007 viajei para vários estados do Brasil conhecendo e documentando instituições de asilamento para pessoas com deficiência para o vídeo documentário “Pessoas com Deficiência em Instituições Totais, a Incapacidade Social”. Título da tese de doutorado da Ana Rita.
Quase tudo às nossas próprias custas. Pagando prá ver.
E vimos!
https://www.youtube.com/watch?v=xfCjuzDjd48&feature=youtu.be
No III Encontro de Vozes Femininas, de 17/08/19, várias mulheres com deficiência intelectual de uma residência inclusiva estiveram presentes, participaram, falaram, se alegraram, nos alegraram.
Eu e Ana Rita trocamos, naquele momento, algumas impressões sobre a presença delas, choramos e gritamos de alegria lá no fundo de nossos corações.
Vimos com nossos olhos, sentimos, (já sabíamos), que um dia nossa luta, e de muitos outros que estiveram juntos nessa caminhada, se tornaria realidade, se tornaria uma política pública. Acreditamos em políticas públicas. Nós escolhemos um lado, o lado dos fracos, o lado do público, o lado da solidariedade.
Mas, estamos aqui, na luta, que é contínua!
Uma luta contra a institucionalização de todas as pessoas, de qualquer pessoa!
Abaixo, um dos primeiros textos que escrevemos sobre Residências Inclusivas e que hoje faz parte de documentos oficiais:
“Residências Inclusivas – Entende-se como residências para pessoas com deficiência casas inseridas na comunidade, destinadas, segundo esta ordem de prioridades, à moradia de pessoas com deficiência, internadas por longa permanência, em risco de institucionalização por não possuírem laços familiares ou suporte social e pessoas que expressem seu desejo de morar de forma independente”.
Dna. Maria Amélia não está mais aqui para celebrar conosco. Este pequeno texto, dedico a ela.
(Para a produção do vídeo documentário contamos com o apoio da antiga CORDE, Coordenadoria Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, coordenada à época pela grande Izabel Maior, sempre aliada).