Demorou um pouco para viabilizar, mas conseguimos reunir a nossa comunidade de mulheres com deficiência e cuidadoras da região da Brasilândia em uma conversa virtual do Google Meets.
Algumas reuniões se antecederam até reencontrarmos nossas companheiras do projeto Vozes femininas, a busca foi pelos números de Whatsapp daquelas que haviam participado nos encontros anteriores e de também de novas mulheres usuárias do serviço de saúde do CER II da Brasilândia/Freguesia do Ó, e foi graças às profissionais da unidade e do CIEJA da mesma região que recuperamos o contato e fizemos o convite para nossa roda.
O primeiro encontro foi proveito para rever alguns rostos e falar sobre a vivência de cada uma durante esse período de pandemia. A roda de conversa auxilia a proporcionar esse apoio coletivo frente aos sofrimentos de ser uma mulher com deficiência de periferia, da mesma forma que é capaz de levantar reflexões pessoais de cada uma, individualmente.
Iniciamos mais um processo de formação de agentes de inclusão como fizemos em 2019. O programa inclui temas de empoderamento feminino e da deficiência para quebrar paradigmas de alguns pensamentos que limitam o nosso desenvolvimento. Além de iniciar o contato com dinâmicas de grupo para que essas líderes possam realizar outras rodas de conversa e multiplicar a experiência coletiva.
Seguimos o encontro com o tema “Ser mulher”, trazendo aspectos positivos, negativos e aspectos que poderiam ser melhorados. Muito se foi falado sobre o machismo, o desrespeito e a desvalorização do trabalho dito doméstico e do cuidado. Infelizmente, histórias pessoais de estupro e de violência foram dividas muito corajosamente.
Ainda vivemos uma situação dramática no Brasil, em que ser mulher em um país que é o quinto no ranking do feminicídio e exercer sua sexualidade mesmo que a cada 11 minutos, uma de nós é estuprada, é um ato de resistir. As mulheres assinam 72% dos artigos científicos nas universidades, mas apenas 19% de nós estão em posição de liderança, quem nos representa? A cada dois dias, uma mulher morre em clínica de aborto clandestina e se decidir ser mãe, 1 a cada 4 de nós sofrerá violência obstétrica.
O Vozes Femininas é um projeto da BRASA, com apoio do Rehabilitation International (RI), que busca unir mulheres com deficiência para que possam discutir as dificuldades cotidianas, e se empoderar a partir da comunidade e da consciência dos seus direitos.
Para recordarmos dos nossos encontros presenciais pré-pandemia da covid-19.