Milhares de pessoas, entre visitantes e moradores do Rio de Janeiro, foram convidadas pessoalmente a fazer parte da campanha conjunta “Respeitar Proteger Garantir – Todos Juntos pelos Direitos de Crianças e Adolescentes”. Esse abordagem foi feita por cerca de 100 voluntários, brasileiros e estrangeiros, que estiveram na capital fluminense durante todo o período dos Jogos Olímpicos 2016 na sensibilização direta do público com foco na proteção dos direitos de crianças e adolescentes. BRASA foi colaboradora oficial da Campanha.

A meta da campanha foi envolver o máximo de pessoas, instituições, governos e organizações da sociedade civil durante a maior competição esportiva do mundo, na prevenção de cinco violações de direitos de crianças e adolescentes consideradas as mais recorrentes em grandes eventos: a exploração sexual infantojuvenil, o trabalho infantil, o uso de álcool e outras drogas, crianças e adolescentes em situação de rua e crianças e adolescentes perdidos ou desaparecidos.

A missão dos voluntários foi a de informar e sensibilizar o público sobre as violações e divulgar os principais canais de denúncia: o Disque 100 e o aplicativo Proteja Brasil. Os voluntários também orientaram os turistas e a população como chegar aos plantões integrados, instalados pelo Comitê de Proteção Integral a Crianças e Adolescentes nos Megaeventos do Rio de Janeiro. Esses locais ofereceram todo o suporte técnico para prestar esclarecimentos durante o período de competições.

A ação dos voluntários foi realizada na Orla de Copacabana e nos Boulevards Olímpicos Porto Maravilha, na região central; Parque Madureira, na Zona Norte; e Centro Esportivo Miécimo da Silva, em Campo Grande, na Zona Oeste. Eles também incentivaram o público a postar fotos e textos sobre a campanha nas redes sociais.

As moradoras de Jardim América, na Zona Norte do Rio, Liliane Souza e Mércia Rodrigues, responsáveis pelas pequenas Beatriz, Mariane e Giovana, estavam na Orla de Copacabana quando receberam informações sobre violações de direitos e instruções para efetuarem denúncias. Além disso, as crianças ganharam pulseiras de identificação, uma das ações de prevenção da campanha.

Para Liliane, a iniciativa é muito importante para a cidade do Rio. “Em época de festa, ninguém se lembra de questões sérias como essa. O Rio de Janeiro recebe muitos turistas e grandes eventos ao longo do ano, como o Carnaval e o Réveillon. A campanha é fundamental para abrir nossos olhos para coisas que acontecem e não percebemos”, ressaltou.

O turista americano James, de 53 anos, também se interessou pela temática e fez várias perguntas sobre a ação. Ele recebeu o informativo em inglês com as instruções para identificar as violações mais recorrentes aos direitos de crianças e adolescentes em grandes eventos e como agir corretamente diante da situação. “Sabemos que muitas pessoas vêm ao Brasil com o objetivo de fazer turismo sexual e, muitas vezes, chegamos a ver essas situações acontecerem com crianças e adolescentes. Poder denunciar anonimamente nos garante segurança e faz com que mais pessoas tenham coragem de atuar para evitar esse tipo de abuso”, disse.

Abordagens
Durante duas semanas, todos os voluntários brasileiros e estrangeiros foram preparados para atuar na proteção dos direitos de crianças e adolescentes durante os Jogos Olímpicos 2016. O grupo participou de oficinas diversas, com aulas de teatro, música, além de palestras com representantes dos principais órgãos relacionados aos cuidados da infância e da juventude.

No decorrer das atividades, os voluntários prepararam abordagens específicas para cada violação de direitos, para serem aplicadas nas ruas, além de simulações e visitas prévias aos locais onde estão sendo realizadas as ações, tudo com orientação de psicólogos, professores, entre outros profissionais.

Para alertar sobre o trabalho infantil, os voluntários da campanha elaboraram a intervenção “Os Engraxates”. A ação, que mescla música e teatro, leva o público à reflexão sobre as perdas que crianças e adolescentes têm ao começarem a trabalhar antes da hora.

O desaparecimento temporário, outra violação comum em eventos de grande porte, geralmente acontece quando pais ou responsáveis pelas crianças se distraem. Para prevenir e alertar, juntamente com a distribuição de pulseiras, os voluntários da campanha prepararam uma intervenção chamada “Parque Vazio”. Nela, os voluntários interpretam pais brincando sem a presença de crianças.

O treinamento dos voluntários brasileiros foi feito na primeira semana de capacitação, de 25 a 29 de julho de 2016 e, dos estrangeiros, na semana seguinte. Para integrar os voluntários de outros países e facilitar o entendimento dos conteúdos contidos nos fluxos de proteção, os voluntários brasileiros preparam dinâmicas, esquetes e apresentações especialmente para eles. Entre elas, atividades sobre a realidade do Rio de Janeiro com relação a violações dos direitos de crianças e adolescentes.

Para a voluntária brasileira Thais Carvalho, 23 anos, moradora de Seropédica, no Rio de Janeiro, (RJ), a abordagem nas ruas não é novidade. Ela é estudante de psicologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e faz parte de um grupo de pesquisa sobre exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes na UFRRJ. Nesse grupo, são promovidas abordagens de rua e eventos para promover a conscientização sobre o tema. “Já estou articulando pontes entre o pessoal da campanha e colegas de pesquisa da universidade e levando os conhecimentos adquiridos no projeto. Estou muito feliz com a interação dos voluntários e da equipe. Fiz vários amigos aqui”, conta.

O projeto
O foco da campanha é a proteção integral das crianças e adolescentes durante os Jogos Olímpicos 2016. Entretanto, a expectativa é que as ações de mobilização e engajamento ultrapassem o período da competição e sejam replicadas e disseminadas em outros eventos de grande porte. Entre os que aderiram à iniciativa estão o atleta olímpico de saltos ornamentais Hugo Parisi e a atriz da Rede Globo Elizabeth Savala, que cederam suas imagens de forma gratuita e solidária.

A campanha faz parte do projeto “Rio 2016: Olimpíadas dos Direitos da Criança e do Adolescente”, uma continuidade da ação promovida para a Copa do Mundo FIFA 2014 que, à época, tinha como meta o combate à exploração sexual infantil. O programa de voluntariado do projeto para os Jogos Olímpicos tem como base a experiência do Grupo de Apoio em Mega Eventos (G.A.M.E.), realizada em Porto Alegre, em 2014, durante a Copa.

A realização é da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), com cofinanciamento da União Europeia (UE) e parceria do Viva Rio, da italiana ISCOS Piemonte, da Rede Internacional End Child Prostitution, Pornography and Trafficking (ECPAT) (França), das prefeituras de Porto Alegre (RS) e do Rio de Janeiro (RJ) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

A iniciativa também conta com o apoio do governo federal, por meio da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e Cidadania, da Rede Mercocidades, do Programa de Cooperação 100 Cidades para 100 Projetos Brasil-Itália, da Childhood Brasil, do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), da ECPAT Brasil, do Centro de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes do Rio de Janeiro (Cedeca-RJ), do Comitê de Proteção Integral a Crianças e Adolescentes nos Megaeventos do Rio de Janeiro, do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 e da Rede de Gestores formada por representantes das cidades de Fortaleza/CE, Rio de Janeiro/RJ, Porto Alegre/RS, Natal/RN, Recife/PE, Salvador/BA, Belo Horizonte/MG, Brasília/DF, Cuiabá/MT, São Paulo/SP, Curitiba/PR, Manaus/AM, São Luís/MA.

Também colaboram com o projeto: o Ministério Público do Trabalho, a Fundação Abrinq, a AccorHotels, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do estado de São Paulo/SP (ABIH-SP), a Associação Brasileira de Agentes de Viagens do Rio de Janeiro (ABAV-Rio), o Shopping Madureira, a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), a Concessionária Litoral Norte (CLN), a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), o Comitê Estadual de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a concessionária de rodovias CART, a Lamsa, a VIA 040 e o GRU Airport – Aeroporto Internacional de São Paulo, a Ancar Invanhoe Shopping Centers, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), a Happy Child, a Latam, a Brasil Saúde & Ação (Brasa), o Sistema Nações Unidas no Brasil, a ANDI – Comunicação e Direitos, o Canal Futura, o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), a Instituição Nossa Casa e a agência de turismo Find Your Rio.

Créditos foto: Agência PapaGoiaba