*Texto por Patrícia Silva, publicado originalmente na plataforma da Rede Humaniza SUS e Imagem de Juliana Medeiros, em encontro presencial do projeto com roda de música em centro o arte educador popular, Ray Lima

Vou começar pela definição do evento para o qual fui convidada por Lorrainy Solano e Stefano Simoni coordenadores do Projeto, tive a honra de participar, neste último dia 15 10 2021: Artesanário. Uma criação coletiva para nomear encontros para além de informativos, formativos. Encontro com arte, com composição, como a própria raiz da palavra nos remete, um juntar de conhecimentos, não só científicos, saberes de vida, mas também com posicionamentos claros e um reconhecimento de que estas sabedorias também passam pelo campo das artes.

Conheça mais sobre o projeto Hanseníase em Rede de Interfaces: saúde, educação e sociedade

O encontro, na verdade, já se inicia na escolha dos participantes. Este teve parceria e elos de ligação afetivos e criativos. Brasa (Brasil, Saúde e Ação), Morhan (MORHAN – Movimento de reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), Rede de Saúde do Rio Grande do Norte, Rede Humanizasus, Educadores Populares em Saúde, Movimentos Sociais.

Ao me questionar sobre qual seria minha contribuição neste momento? Me vendo em meio a pessoas super qualificadas do ponto de vista acadêmico e de experiências sobre o tema proposto: Acolhimento e Hanseníase. Que teria a acrescentar ali para além de meu desejo em colaborar e apoiar uma iniciativa que considero super importante para a saúde no Brasil?

Então pensei sobre meus últimos estudos sobre Paulo Freire e o quanto sua afirmação de que todos tem sempre alguma sabedoria. Ousei me sentar nesta roda, também com os aprendizados e com a história de vida com o Coletivo da Política Nacional de Humanização e da Rede Humanizasus.

Busquei então minhas vivências acumuladas: Lembrei de minha experiência com o Programa Estadual de Hanseníase em Santa Catarina, região do Médio Vale do Itajaí, quando de minha chegada a Blumenau para trabalhar na Regional de Saúde em 2004. O cenário era muito inusitado para mim: uma nutricionista que vinha com experiências profissionais em cozinhas industriais, hospital tanto clínica como própria produção de alimentos para os trabalhadores e pacientes. Porém, nunca havia me deparado com pessoas com hanseníase. Nem havia estudado o tema, uma vez que esta patologia não tem em sua clínica relação direta com a alimentação do ponto de vista do tratamento mais direto. Restou me abrir ao aprendizado.

Estudei sobre a doença, investiguei sobre o programa, como se organizava, quais seus propósitos e modos de atuação administrativa tanto estadual como dos municípios que fazíamos referência (14 municípios da região do Médio Vale do Itajaí).

Nesta época não conhecia nem a região geograficamente, nem as pessoas de referência para o programa … o que me possibilitou conhecer tudo isso: o território e as pessoas.

Abracei o trabalho, me coloquei a disposição. Me coloquei no apoio com conhecimentos técnicos reproduzidos e aprendidos pelos estudos, não pela vivência. Busquei organização administrativa para facilitar meu trabalho e dos colegas. Ofertei acolhimento, atentando pela empatia com os técnicos, que conduziam os programas locais e indiretamente aos usuários do programa. Pela identificação de desafios e potencialidades nos tornamos, em coletivo uma referência de trabalho para outras regiões do estado. Como? Democratizando saberes, construindo em coletivo, em especial com a escuta dos usuários.

E este foi meu texto de fala no evento.

Ricardo Ceccim, (Enfermeiro, Sanitarista, Professor Doutor UFRGS RS) abriu a participação, apresentou a todes e se colocou brevemente diante do tema.

E assim fomos compondo este encontro com a liberdade da fala de cada um, cada uma, com a leveza do artesanário, com a improvisação, modo tão peculiar deste espaço de construção, e também com os saberes geniais dos convidados.

Faustino Pinto, Movimento Morhan, Juazeiro do Norte CE

Ricardo Rodrigues Teixeira, Médico, Professor Doutor Universidade de São Paulo (USP SP)

Liane Beatriz Righi, Enfermeira, Professora Doutora Universidade Federal de Santa Maria (UFSM RS)

Itamar Lages, Enfermeiro, Mestre em Saúde Coletiva, Professor Universidade Federal Pernambuco PE (UFPE)

Ray Lima, Educador Popular em saúde, Cenopoesia, Fortaleza Ce

Assista o encontro completo pelo Canal da Brasa no Youtube.

Vamos seguir conversando? Como você entende o acolhimento como diretriz de atenção à saúde? Como podemos aplicar esta diretriz no acompanhamento, tratamento de pessoas com hanseníase?

Durante o evento foi apresentado o vídeo que dispara uma campanha em favor da atenção em saúde das pessoas com hanseníase que entre outras coisas pretende provocar o olhar da população em geral para as pessoas e não somente para a doença como a maioria das campanhas veiculadas até o momento no Brasil.

Não esqueça a Hanseníase!

Então é isso: Não esqueça a hanseníase!

E como a cereja deste lindo bolo de composição saúde, arte e amorosidade… Recebemos como presente de Kalianny Silva, de Mossoró RN um cordel elaborado durante o encontro virtual.

Vamos unir as histórias
E assim vamos em frente
Ajuntar a nossa força
Tentar fazer diferente
Dando a volta por cima
Lutando por nossa gente

Professores, escritores
Profissionais de saúde
que na hora que precisa
eles tomam atitude
fazem palestras e encontros
lutam pra que tudo mude

Pessoas que se importam
que fazem acontecer
tem gente de todo canto
na peleja pra resolver
pequenos grandes problemas
com esperteza e saber

Eles fazem caravanas
buscando as melhorias
pra poder nos ajudar
um pouco mais cada dia
colocando esperança
esbanjando sabedoria

Lutas e grandes batalhas
estão sempre enfrentando
pra poder nos acolher
estão sempre conversando
pra achar uma solução
sem parecer desumano

Falando sobre saúde
foi isso que nos uniu
peço a Deus que os ajude
nesse mundo tão febril
pena que a apatia
tomou conta do Brasil

Um passo cheio de garra
e de força de vontade
que trabalha com amor
e ajudam comunidades
que sofrem com o descaso
dos que agem com maldade

A nossa população
que sofre tanto calada
por não ter a dimensão
do tanto que é amada
pessoas que valem muito
que pensam não valer nada

Não vou falar de doença
Vou falar de acolhimento
E gritar Viva o SUS!
com todo o meu sentimento
Pois a luta é de todos
que precisam neste momento

Que as pessoas que estejam
com doença contagiosa
não se sintam excluídas
lutam para que elas possam
ter uma vida normal
de maneira amorosa.

Esse foi mais um encontro
para falar de acolhimento
na nossa rede de saúde
nos dando o entendimento
tentando amenizar
um pouco do sofrimento.

Assista o evento virtual na íntegra:

Artesanário 1 – Acolhimento: a construção do cuidado coletivo

Artesanário 2 – Atenção Básica como Ordenadora do Cuidado

*Patrícia é Nutricionista, ativista militante da Rede Humaniza SUS e mora atualmente em Blumenau, Santa Catarina: “Gosto de gente e também de animais. Acredito que sonhos mudam o mundo. E viajar me faz feliz.”